Meu armário me condena: sobre rever looks antigos
Quem nunca olhou fotos antigas e não entendeu como conseguiu usar alguma peça ou combinação no passado? Tenho certeza que você já passou por isso vendo fotos com looks antigos e vai se identificar com essa crônica. O mais legal é que escrevi esse texto em 2012 e fica claro como muita coisa voltou, já foi e voltou de novo a estar na moda, rs!
Meu armário me condena
Pegue uma foto antiga e deixe de lado o seu aspecto envelhecido, os cantos amassados e a cor desgastada. Não importa se ela foi tirada na década de 1950, 1980 ou 1990, você vai achar ali, em meio a cabelos armados, topetes, calças de cintura alta – mas muito alta – e combinações inusitadas, algo que já usou, usa ou ainda vai usar. E não tem jeito: por mais que você não vá até o que está na moda, em algum momento ela foi ou vai até você.
Tamanco com salto anabela, sapatinho da Melissa transparente com meias coloridas, top de crochê, gargantilha imitando tatuagem, um brinco maior e outro menor e até a famosa pulseira da Jade da novela “O Clone”. É nessas horas que surge a sorte de muitas fotografias estarem só escondidas em álbuns – e não a um clique de distância.
As aspirações para essas peças surgirem e conquistarem adeptos vêm de todas as partes. Das passarelas, da televisão, dos livros e de pessoas – sejam celebridades ou não. Os clogs, tamancos com salto de madeira, por exemplo, eram usados por camponeses e foi só a Chanel apostar nele, em 2010, para que ganhasse as ruas. As alpargatas, modelo de sapatilha com solado geralmente de corda, eram usadas por pescadores, viraram febre com Brigitte Bardot nos anos 1960, voltaram em 1980 e agora, em 2012, estão aí de novo, como sinônimo de estilo. Quer algo com mais cara de roupa de avó do que um conjunto com o mesmo tecido ou estampa? Pois é, tem muita gente por aí usando.
O problema – ou solução – é que a moda anda em um ritmo cada vez mais rápido. No verão se fala de inverno, e no inverno se fala de verão. E é por isso que podemos sentir isso em um intervalo de tempo cada vez menor. Com tantas mudanças, fica ainda mais difícil entender o que nos faz gostar de algo que antes considerava de gosto duvidoso. Quando se imaginaria ver tantas saias mullet, curtas na frente e compridas atrás? Ou um tênis com salto embutido? Ou uma calça colorida sendo usada por alguém que não é fã de Restart? Ou spikes, aquelas tachas pontiagudas, fazendo parte de looks de quem não ouve heavy metal? E usar uma blusa na altura da cintura, mostrando a barriga? Há quem ache que é questão de costume e até falta de personalidade.
Não vejo nada de errado em se acostumar com outros hábitos, opiniões e, claro, peças de roupa. É bom saber se adaptar e inovar de vez em quando. E cada item – por mais estranho que seja –, transporta para uma época. Minha infância foi repleta de tênis de mil amortecedores e pulseiras de miçangas que davam várias voltas. Não importa se é para dar risada ou para sentir uma pontinha de saudade de uma fase que já passou. A verdade é que, dependendo de quando você está lendo isso, é provável que muito do que eu falei aqui já pareça muito estranho.
Paula Salvador, 2012.
[Texto originalmente de 2012 e publicado em 18 de setembro de 2014 do meu antigo blog Walking on the Street]