Já ouviu falar no Fashion Revolution Day, que acontece sempre dia 23 de abril? Nessa data, em 2013, mais de 1100 trabalhadores perderam a vida e mais de 2500 ficaram feridos com o desabamento de um edifício que abrigava uma fábrica de tecidos em Bangladesh. Eram péssimas condições pros trabalhadores e essa empresa era um dos fornecedores de grandes empresas de roupa como a Primark – além de muitas outras que também buscam baixo preço na confecção.

Rana Plaza, em Bangladesh, em 23 abril de 2013.

E o pior é que esse não é um caso isolado. Essa mesma empresa já se envolveu em casos de más condições de trabalho. Quem lembra das etiquetas com as frases “Forçado a trabalhar durante horas exaustivas” e “condições humanas degradantes”? As investigações sobre esse caso continuam e seguem sem confirmação, mas esse é mais um alerta.

Para não deixar que isso seja esquecido, designers de Londres criaram o Fashion Revolution para fazer as pessoas se perguntarem de onde vieram as suas roupas, pensarem na cadeia de produção do que estão vestindo e exigirem transparência do mercado de moda.

No Fashion Revolution Day, pessoas do mundo inteiro colocaram a roupa ao contrário, marcaram a marca e divulgaram nas redes sociais perguntando #whomademyclothes? (quem fez minhas roupas?). A coordenadora brasileira do Fashion Revolution é a designer de moda Fernanda Simon*. Ela, depois de formada em moda, começou a procurar uma moda com princípios éticos e sustentáveis, porque não queria trabalhar para uma moda ligada a danos ao planeta e às pessoas:

“Tem muita coisa acontecendo que não deveria. Ninguém deveria morrer pela moda.”

Aí a gente se pergunta: como vamos diferenciar as empresas que têm boas práticas das que não têm? Até a Fernanda considera isso difícil, mas ela garante que há alternativa para quem se conscientiza e que, no final, fica mais fácil do que parece.

“Tem muita coisa que não dá pra gente comprar usado, ficar arrumando para sempre, mas aí compra menos, compra com qualidade, tenta comprar mais local, vê quem está mais ligado com práticas sustentáveis e menos conectado com multinacionais.”

Mas o preço que pagaríamos para ter esse produto “correto”? Eles são feitos pagando os trabalhadores com preços justos e com preocupação ambiental e, consequentemente, podem ter um preço mais alto. Mas a Fernanda levantou um ponto importantíssimo:

“Eu vejo aqui no Brasil pessoas pagando caríssimo por roupas e bolsas importadas como se fossem produtos extra especiais quando na verdade estão enriquecendo multinacionais que usam mão de obra escrava. É só uma questão de valores”.

E faz todo o sentido. Se a gente começar a buscar e cobrar isso, as empresas vão ter que se adaptar. Não é fácil mudar os hábitos, mas querer se informar e fazer a opção de comprar em uma empresa que você sabe que tem produção nacional, por exemplo, já é muito válido. E esse pode ser o começo, né?!

Beijos,
Paula

*Entrevista realizada em 2014. [Texto originalmente de 23 de abril de 2014 do meu antigo blog Walking on the Street e adaptado em 2018]